CONCURSO REFORMA URBANA / FENEA 2010
Júri:
Arqto. Tarcísio Marques – IAB/MG
Arqta. Elizete Menegat - UFJF
Arqto. Pedro Arantes – UNIFESP
Critérios que orientaram a avaliação
·
Diagnóstico consistente, com visitas a campo e
domínio da situação territorial e social delimitada;
·
Propostas coerentes com o diagnóstico
apresentado;
·
Soluções de urbanização e edificações que fogem
do banal e pesquisam possibilidades ricas e complexas de implantação e
conformação das cidades;
·
Uso de alguns instrumentos do Estatuto da Cidade
a fim de liberar terra para implantação da moradia ou outra forma de aplicação
para auxiliar na solução de demandas;
·
Pesquisa de formas de financiamento possíveis,
dentro do quadro de políticas atuais;
·
Capacidade de inserção do projeto no tecido urbano,
proximidades com equipamentos públicos e vias de acesso, respeito e diálogo com
os contextos nos quais intervém;
·
Indicação de alguma forma de gestão do processo
de projeto e/ou intervenção urbana;
·
Preocupação com sistema construtivo e sua
sustentabilidade;
·
Demais diretrizes apontadas no edital do
Concurso.
Primeiro lugar:
OLAVO COSTA – PROJETO Nº 420
Diagnóstico do território com
levantamento de campo adequado. Solução sensível ao problema de ocupação de
encostas, que é uma situação recorrente nos assentamentos precários na maioria
das cidades brasileiras – áreas em que os trabalhadores tiveram que se
localizar, terras “sobrantes” que não interessavam ao mercado e às elites,
ambientalmente frágeis e ingratas para urbanizar. O grupo realiza um estudo
interessante de implantação de circulações, pequenas praças e edificações nas
encostas. Promove a remoção apenas das moradias que se encontram em área de risco
e sua relocação para terrenos próximos, o que permite às famílias manter seus
vínculos com o bairro e os serviços públicos que já utilizam. Faz bom uso do
terreno e investiga propostas volumétricas interessantes. Expressa um respeito
ao contexto, dialogando com aquela ocupação, sem propor terra arrasada ou, de
outro lado, romantizar a situação da favela. Apesar da volumetria rica, as plantas,
fachadas e tipologias habitacionais ainda não haviam encontrado a melhor
solução. A proposta revela a maturidade do grupo ao adotar uma postura de
projeto atenta ao contexto e que incorpora diversas das conquistas das práticas
de urbanização em assentamentos precários no Brasil nas últimas décadas.
Segundo lugar:
CAPIVARI – PROJETO Nº 410
Reconhecimento do problema ambiental e habitacional
em um interessante vazio urbano. Trabalha de modo correto e com riqueza
espacial a situação da várzea – outra problemática típica da moradia social no
Brasil. Procura combinar projeto habitacional com geração de renda, educação,
lazer e área de preservação. Faz um estudo das edificações com boa volumetria,
apesar de redundar em edifícios com difícil equacionamento estrutural e de
instalações. Dialoga corretamente com a legislação existente, como o Estatuto
da Cidade, com programas habitacionais e políticas de financiamento, como a
locação social e o “Minha Casa, Minha Vida”. O resultado é um projeto
integrado, complexo e interessante, que aponta para soluções urbanísticas propícias
a um processo de reforma urbana a favor da qualificação da forma-cidade, ao evitar
a expansão periférica extensiva e insustentável.
Terceiro lugar
HIPERSIGNIFICAR – PROJETO Nº 416
Trabalho mais problematizador e provocativo do que
propositivo, o que não deixa de ser um mérito, ao expressar inquietação e
inconformismo. Questiona o processo de urbanização capitalista como um todo,
mobiliza textos críticos e escolhe uma área de intervenção significativa em
Juiz de Fora. Trata-se da fronteira entre um bairro popular e a
urbanização-desurbanizadora de shoppings e vias expressas que encontra na praça
Lancet seu ponto emblemático de conflito. É nessa praça que o grupo faz uma
instalação-provocação com uma releitura da Maison Domino de Le Corbusier
incorporando a ela um barraco em alvenaria aparente. O “desajuste” entre o
modelo e sua exceção, que no Brasil é a regra, promove um efeito
desnaturalizador interessante – e ironiza os arquitetos. Na laje da
Maison-Parangolé um menino empina uma pipa. O trabalho teria ganhado em
densidade se o grupo tivesse lido com mais cuidado a própria situação em
conflito, a história do bairro popular e dos empreendimentos comerciais que ali
surgiram, bem como do uso da praça Lancet, que antes da intervenção viária
abrigava um campo de futebol e atividades festivas da comunidade. Assim, o
diálogo que o grupo procurou com a teoria crítica não encontrou rebatimento em
uma pesquisa de campo sobre o contexto local. Afinal, a reforma urbana ainda
acontece na escala local e com sujeito e conflitos reais, mesmo que
compreendida dentro da contradição global da urbanização capitalista e de suas abstrações.